Lotus 56: O carro a jato de Colin Chapman

Em termos de velocidade pura, os aviões e suas turbinas atingem velocidades incríveis, mas por que não utilizar estas mesmas turbinas em terra firme em um carro de corrida?

Colin Chapman aplicou essa ideia no fim dos anos 60 criando o mítico Lotus 56, mais um de seus projeto revolucionários.

A ideia original

Em 1967 uma das grandes surpresas para a Indy 500 daquele ano, foi STP-Paxton Turbocar, que consistia em um carro com um motor a jato adaptado com a intenção de voar sobre o oval americano contra os convencionais motores de combustão interna.

STP-Paxton
STP-Paxton

Originalmente Ken Wallis um parente distante do brilhante engenheiro inglês Barnes Wallis (que contribuiu com suas criações em varias áreas durante a segunda guerra mundial do lado dos aliados)  teve a ideia de construir uma turbina que pudesse ser utilizada em carros de corrida.

Wallis inicialmente levou sua ideia até Dan Gurney que já atuava como construtor, porém Gurney não apostou na ideia de Wallis que levou o plano a diante oferecendo a ideia para Caroll Shelby que chamou de “besteira” (como afirmado em depoimento tempos depois), até que Wallis se deparou com Andy Granatelli CEO da STP e ativo no ramo das corridas que apresentou interesse no projeto.

7_silent_screamer_stp_turbocar_002_copyWallis e sua equipe se mudou para Santa Monica nos EUA, trabalhando ao lado de Joe Granatelli (irmão de Andy) que administrava a divisão Paxton da STP, tirando o projeto do papel já em janeiro de 1966.

Granatelli utilizou o conceito “Side by Side” (utilizado por Smokey Yunick anos antes) que consiste em montar o motor de forma central entre os eixos, ao lado esquerdo do piloto.

O projeto também contava com um sistema de tração integral nas 4 rodas.

grantanelli_stp-paxton_turbine_car_1967_indy_with_team_2_5020956fddf2b36fbb0002d2Os testes térmicos em 1966 deformou todo o chassis de alumínio impossibilitando o carro de correr nas 500 milhas, porém o projeto foi refeito e o carro estava pronto para as 500 milhas de 1967.

Durante testes em Phoenix no inicio de 67, Parnelli Jones ficou impressionado com o rendimento do carro e foi o escolhido para guiar o carro nas 500 milhas, com um contrato de U$100,000 para corrida e mais metade do premio caso ganhasse a corrida.

O motor UAC da Pratty & Whitney ST6-B acoplado a uma transmissão de marcha única, deu a Jones 6º lugar no grid com a de marca 166.075 mph

A corrida que começou com Parnelli Jones assumindo a ponta logo no inicio, foi interrompida na volta 18 e resumida no dia seguinte, em decorrência de mal tempo.

silentsamJones liderou 171 voltas e seguia certo da vitória do time da STP-Paxton mas a poucas milhas do fim o famoso cambio de U$ 6 falhou, e logo em seguida após uma batida A. J. Foyt tomou a liderança e ganhou as 500 milhas mais uma vez.

O Lotus 56 de Colin Chapman

O time da Lotus mostrou interesse no projeto da STP-Paxton, e uniu forças afim de criar um carro que mais uma vez pudesse tentar faturar as 500 Milhas de Indianápolis.

op6apu1t24kq6laew2hbO novo carro batizado de Lotus 56 foi inteiramente construido em um chassis monocoque em alumínio, com os tanques de combustível em suas longarinas, juntamente com uma suspensão de braços duplos que gerava boa estabilidade.

A carroceria éra engenhosamente simples, com um bico baixo e a traseira ligeiramente mais alta que cortava com mais eficácia o ar, e como turbinas não precisam de radiadores foi fácil criar projeto simples e funcional como o modelo 56.
Para equipar o novo Lotus, Chapman e Granatelli tinha assinado um acordo de exclusividade para a utilização de uma turbina industrial Pratt & Whitney, que poderia ser modificado para cumprir os regulamentos.

O motor Pratt & Whitney modificado contou com um compressor de três estágios e dependendo da temperatura ambiente e altitude produziu cerca de 430 até 500 cv.

G. Hill em testes com o Lotus 56
G. Hill em testes com o Lotus 56

A turbina foi acoplado a um sistema de tração integral Ferguson com a caixa de transferência montado entre o controlador e o motor. Este sistema já tinha sido experimentado e testado em próprios carros de Ferguson que tinham funcionado em Indianápolis, entre 1964 e 1967. Devido a abundância do torque gerado não foi necessário utilizar uma caixa de cambio convencional.

Para as 500 Milhas de 1968 a Lotus tinha planos de alinhar 4 carros no grid, porém Mike Spence sofreu um acidente durante os treinos livre em Indianápolis, e morreu uma semana depois devido aos ferimentos.

Graham Hill, Joe Leonard e Art Pollard foram os pilotos que conduziram os “foguetes” da Lotus, que mostraram um ritmo muito forte durante os treinos, possibilitando a Pole position de Leonard com a marca de 171,559 Mph (276.097 km/h).

Joe Leonard voando baixo com sua turbina que assoviava alto em cada passagem pela reta de Indianápolis.
Joe Leonard voando baixo com sua turbina que assoviava alto em cada passagem pela reta de Indianápolis.

Logo no inicio da prova, Pollard disparou na frente com um dos Lotus, seguido de perto por Bobby Unser e Lloyd Ruby, porém com a ordem de poupar o carro tirando o pé e deixando Unser e Ruby ultrapassar, pensando na velocidade extra no fim da corrida.

Na volta 112 Graham Hill, bateu um dos Lotus 56 no muro e felizmente saiu ileso.

Na volta 175, Pollard começou a sua reação rumo a liderança, passando Unser e Ruby que sofria com problemas mecânicos perdendo muitas posições, fazendo todos acreditarem que desta vez os carros a jato venceriam em Indianápolis.

Mas a 18 voltas do fim um outro acidente casou bandeira amarela, que foi terrível para os carros da Lotus, que com o fluxo de ar diminuísse aumentando a temperatura das turbinas.

Na volta 190 a bandeira verde foi agitada novamente, com Unser pulando na frente graças a lenta aceleração dos motores a jato, com Pollard e Leonard abandonando em seguida, deixando o caminho livre para Bobby Unser vencer as 500 milhas de 1968.

Lotus 56B

Com o projeto descontinuado nos EUA, em 1970 Colin Chapman levou para Europa o projeto do carro turbina batizado de 56B.

Fittipaldi ao volante do 56B
Fittipaldi ao volante do 56B

Com varias modificações para o regulamento técnico da F-1, Colin Chapman e Maurice Phillippe deram ao 56B um pelo design totalmente funcional herdando do modelo 56 da Indy a frente em cunha que mais tarde também seria utilizada no lendário Lotus 72.

Outra grande mudança foi o aumento da potencia gerada pela turbina na casa dos 600cv, muito superior aos convencionais 450cv dos seus oponentes.

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O posicionamento central da turbina serviu para ajudar as funcionalidades aerodinâmicas, utilizando do exaustor para empurrar os gases para asa traseira aumentando a pressão aerodinâmica junto com o fluxo de ar recebido pela carroceria, combinado ao sistema de tração integral dando a impressão que teoricamente era um ótimo projeto.

Mas logo nos primeiros testes o carro já mostrou suas fraquezas, como o peso elevado por conta dos 300L de querosene para dar conta da alimentação da turbina Pratt & Whitney STN 6/76, que como descrito por Emerson Fittipaldi fazia o carro ter uma aceleração lenta, porém ao ganhar velocidade tinha muita dificuldade nas frenagens fazendo do Lotus 56B um carro com desempenho instável.

fitti05Emmo estreou o 56B em 1971 no Race of Champions em Brands Hatch, o carro mostrou bom desempenho nas mãos do brasileiro, porém a suspensão não aguentou e Fittipaldi abandonou.

A estreia oficial pelo campeonato de 1971 ficou nas mãos de Dave Walker, pois Emerson não pode correr devido um acidente de transito após se mudar para suíça.

Walker largou em 22º lugar no GP da Holanda em Zandvoort, porém devido a um acidente em baixo de chuva forte fez o Australiano abandonar.

Reine Wisel, com o posto de 2º piloto da Lotus teve a missão de guiar o 56B em Silverstone, uma pista rápida que podia favorecer o carro de Chapman, mas não conseguiu nada acima de um 19º lugar com 12 voltas a menos que Jackie Stweart ganhador da prova, sendo desclassificado.

Em Monza na Itália, o 56B ganhou uma nova chance de mostrar seu potencial no rápido traçado italiano, que na época tinha velocidade media de 250Km\H

Emerson Fittipaldi agora no comando do “foguete”, sem as convencionais cores da Lotus, devido a morte de Jochen Rindt no ano anterior e com receio de ter os bens da equipe confiscados, inscreveu seus carros  pela Worldwide Racing.

Emerson se classificou em 18º no grid, levou o problemático Lotus ao 8º lugar e uma volta atrás, sendo ultima corrida completa do modelo 56B.

O Lotus 56, foi um modelo importante para evolução das corridas mesmo não sendo vitorioso nas provas as quais disputou, ficando marcado na historia como um dos mais revolucionários e controversos carros já construido.

Em clima de despedida, terminamos com o vídeo de 2013 em Goodwood, com o Lotus 56 que disputou as 500 milhas de de 1968, assoviando pela sinuosa subida da mansão de Lord March.

Espero que gostem e até o próximo Post.

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